Crise ainda pesará para frigoríficos pequenos

Por Nayara Figueiredo

Exportações de carne bovina têm horizonte otimista para 2017, mas só as grandes companhias do setor acessam o mercado externo e cerca de 80% da produção dependem do consumo nacional
abate tende a crescer no ciclo produtivo atual

São Paulo – Com menor escala e muitas vezes sem acesso ao mercado internacional, os frigoríficos de pequeno e médio porte devem ser os mais afetados pela lenta retomada no poder de compra das famílias brasileiras ao longo deste ano.
A cadeia de proteína animal vem de uma temporada de margens mais estreitas, onde os custos de produção saltaram e o consumo recuou na ponta final. No caso específico do boi, a mais nobre das carnes, ainda houve um movimento de substituição por frango e ovos, por exemplo. Para 2017, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) espera altas de 11% e 9% em volume e faturamento, respectivamente, de vendas externas, mas o problema é que cerca de 80% do setor depende do mercado interno.
“Acreditamos que a demanda doméstica será de moderada a baixa. O cenário atual é promissor, mas não nos níveis necessários. Desde que o País entrou em uma recessão forte o consumo caiu e já é fato que a carne de frango está ganhando da bovina”, avalia o presidente da Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carne do Estado de Mato Grosso do Sul (Assocarnes), João Alberto Dias. “Interajo diretamente com meus pares de outros estados e este é o consenso no Brasil”, acrescenta.
O executivo conta que o processo de habilitação das indústrias para exportação contém exigências e demanda investimentos. Como as margens das unidades de menor porte – maioria naquele Estado – são mais estreitas, faltam aportes para conseguir a habilitação, mesmo que as fiscalizações federais estejam em dia.
Do outro lado do País, o presidente do Sindicato Industrial de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei Alberto Lauxen, destaca que por anos os frigoríficos da região trabalharam com ociosidade porque faltava matéria-prima. Isso levava o segmento a buscar a produção de outros estados para compor a oferta e atender o consumo.
“Com a retração na demanda em função da crise econômica no País, as plantas conseguiram pelo menos manter os níveis de abate. Dependemos muito da economia, como um todo, e se houver alguma expectativa positiva, poderemos crescer um pouquinho ainda”, comenta o líder sindical.
Custos de produção
Caso se consolide a projeção de retração entre 20% e 25% nos preços do milho, o coordenador de pecuária da Agroconsult, Maurício Palma Nogueira, acredita em uma recuperação na oferta de gado. No entanto, diante de um ambiente em que a demanda tem retomadas fracas e a matéria-prima reage fortemente, existe uma conjuntura de queda de preço nominal ou de melhora na margem da indústria por conta da produção mais barata.
“Neste contexto, os grandes grupos saem favorecidos nas duas pontas, porque ainda podem escoar para fora do País. Já os menores ganham apenas no início da cadeia”, avalia Maurício Palma Nogueira.
Surge então, uma preocupação quando ao aumento da informalidade nos abates dos animais entre os frigoríficos pequenos e médios para garantir margens atrativas. Fontes do setor ouvidas pelo DCI alegam que o cenário abre precedentes para sonegações fiscais, compra de animais abaixo do nível dos níveis qualitativos exigidos para abate entre outras práticas ilícitas.

Fonte da Notícia
DCI

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